quinta-feira, 26 de abril de 2012

Saiba quais são as doenças relacionadas ao trabalho e como tratá-las:


Laís Ferenzini* | Ciência e Saúde 

Você certamente já ouviu falar sobre as LER, as lesões por esforços repetitivos ou nos DORT, distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. Porém, provavelmente, ainda não tem a exata noção de quão grave tem se tornado este problema. Médicos veem aumentar cada vez mais a procura de pacientes que sofrem de LER/DORT nos seus consultórios, uma verdadeira epidemia que atinge os trabalhadores brasileiros, que sofrem dores fortíssimas, perdem a capacidade laborativa e passam a viver em constante luta pela dignidade perdida. Nas últimas décadas, com o aumento crescente da informatização, os trabalhadores passaram a sentir na sua saúde a conseqüência dessas mudanças. O uso do computador, que prometia trazer praticidade e agilidade para o nosso dia a dia adoeceu centenas de profissionais, que eram obrigados a trabalhar num ritmo frenético.

* Vítimas da doença relatam as dificuldades ao SRZD

Pouco se tem falado sobre LER/DORT, nos últimos anos, principalmente se comparado com a grande repercussão deste assunto no final dos anos 90 e início desta década. De acordo com o advogado Rafael Fernandes, especialista em saúde do trabalhador, houve uma banalização da LER/DORT nos últimos anos."A doença não é visível, não há marcas no corpo". Em contrapartida, "há uma epidemia de doenças relacionadas ao trabalho, principalmente no Brasil", alerta ele.

Trabalhando com LER/DORT há doze anos, o ortopedista e perito da Justiça Federal, Luciano Bomfim, viu crescerem os casos da doença no seu consultório. Do total de atendimentos, os casos de DORT atingem a incrível marca de 80% dos atendimentos. "São problemas no ombro, no punho e no cotovelo. Especialmente nos ombros e nos punhos, visto que existe um excesso de digitação de forma inadequada", afirma o médico.

Considerada um conjunto de doenças, a LER não é necessariamente ligada ao trabalho e, por isso, surgiu o termo DORT (distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho). Os profissionais mais atingidos por LER/DORT são os operadores de telemarketing, digitadores, jornalistas, bancários assim como os caixas de supermercado. Temos ainda os operários de linha de montagem, os pintores, os mecânicos e as empregadas domésticas.

O ortopedista Luciano Bomfim atenta para outros profissionais que são vítimas dessas doenças. "Os carteiros usam uma bolsa lateralizando o tronco, o que causa escoliose. Eles deveriam usar uma mochila que tivesse no máximo 10% do peso corporal. O gari corre atrás do caminhão, pula e pega o contêiner, fazendo um grande esforço e sobrecarregando a coluna", alerta ele.

Onde a doença age

A LER/DORT afeta principalmente os membros superiores e atinge músculos, nervos e tendões provocando micro-traumas e inflamação dos mesmos. No caso da tendinite, por exemplo, o excesso de esforço causa a inflamação do tendão, estrutura que liga o osso ao músculo e que permite a realização dos movimentos.

As principais doenças são a tendinite, a tenossinuvite, o cisto sinovial, a síndrome do túnel do carpo, a síndrome do manguito rotador (tendinite do ombro), a lombalgia, a epicondilite, a tenossinuvite de De Quervain e o dedo em gatilho. Os bancários, por exemplo, são atingidos principalmente pela síndrome do manguito rotador. "Os bancários fazem no mínimo de quatro a sete movimentos de ombro por atendimento. Serão de 1200 a 2100 elevações de braço por dia e em um mês serão 30 mil", alerta Luciano Bomfim.

Os fatores que mais contribuem para o desenvolvimento de LER/DORT são a má postura, o trabalho automatizado, a repetição, a sobrecarga de tarefas, o estresse, a ausência de pausas durante o expediente e a falta de investimento em ergonomia nos ambientes de trabalho. As pausas são importantes para a recuperação das estruturas músculo-esqueléticas. O ortopedista Luciano Bomfim recomenda uma pausa de dez minutos a cada hora, além do alongamento e de exercícios de fortalecimento muscular.

O tratamento

Se a pessoa tem sintomas como dor constante, dormência, perda de força é importante procurar um médico. Nos estágios iniciais, é possível se tratar o problema com uso de medicamentos, imobilizadores e fisioterapia. Caso contrário, as lesões por esforço repetitivo podem se tornar tão graves que o quadro torna-se irreversível. Isso se deve ao fato, de que essas doenças atingem estruturas com baixa irrigação sanguínea, como cartilagens e tendões e que, portanto tem baixa capacidade de regeneração.

Quando se trata de LER/DORT, a melhor alternativa é a prevenção. Hoje em dia, dispomos de vários produtos ergonômicos especialmente criados para o ambiente de trabalho. Cadeiras com regulagem do assento e dos apoios de braço, descansa pés, apoio para teclado, suportes para punho e até mesmo cinta ergonômica para a coluna.

Chamados de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), esses produtos devem ser usados por cada trabalhador para protegê-lo contra riscos à sua segurança e saúde. O problema é que muitas empresas não fornecem esses equipamentos porque não querem arcar com os custos.

* Laís Ferenzini é jornalista e colaboradora do SRZD.

0 comentários:

Postar um comentário